As birras são parte normal do desenvolvimento infantil, fazendo, por isso, parte da formação do “eu” das crianças. Estas são comportamentos explosivos que ocorrem quando as crianças se sentem frustradas, irritadas, incapazes de expressar as suas necessidades ou são contrariadas. De uma forma geral, essas explosões emocionais podem incluir, choro, gritos, atirar-se ao chão, bater e morder. Todos nós, em determinados momentos das nossas vidas, podemos passar por situações de birra, a grande diferença quando se fala em birras nas crianças, é que elas, muitas vezes, necessitam de ajuda para lidar com estes momentos.
Provavelmente poderá estar a perguntar-se porque que as crianças tendem a fazer estas birras.
As crianças podem ter/fazer birras por diferentes motivos, como por exemplo, quererem fazer algo que não podem, terem fome, não conseguirem fazer algo sozinhas ou estarem cansadas. Para além disto, as crianças podem também fazer birras para chamar à atenção de um adulto ou até mesmo dos próprios os pais, obter o que desejam ou testar os limites estabelecidos.
Existem também alguns fatores que podem contribuir para o surgimento destas “birras”, nomeadamente o:
– Desenvolvimento emocional e cognitivo, uma vez que as crianças ainda estão a aprender a lidar com as suas emoções e ainda não possuem competências de autorregulação totalmente desenvolvidas para as saber gerir, o que pode levar a explosões emocionais mais frequentes;
-Stress e cansaço: as crianças quando estão cansadas ou stressadas têm uma maior probabilidade de fazerem birras;
-Falta de capacidade para comunicar, uma vez que as crianças ainda estão a aprender a comunicar, é frequente não conseguirem expressar as suas necessidades ou frustrações de forma adequada, recorrendo por isso, às birras para se fazerem entender;
-Desejo de serem independentes e autónomas, as crianças crescem e começam a desejam ter mais autonomia e independência, no entanto, quando se deparam com limites ou restrições, podem manifestar-se através das birras como forma de expressarem aquilo que querem.
As birras podem funcionar como sinais de alarme, de que algo não está bem, são uma forma de comunicação para as crianças sobretudo, quando estas ainda, não tem as competências de comunicação suficientemente desenvolvidas, para se expressarem de outra forma. Na grande maioria das vezes, as crianças usam as birras como uma forma de expressar as suas emoções intensas e frustrações.
Estas podem tornam-se problemáticas quando ocorrem com muita frequência e/ou em situações em que a criança se sente sufocada por aqueles que a rodeiam como, por exemplo, a família.
Um aspeto fundamental na gestão das birras é a empatia, é muito importante que os pais que os pais compreendam e validem as emoções da criança, ao demonstrarem empatia, os pais ajudam a criança a desenvolver competências sociais e emocionais para além de fortalecerem os seus vínculos afetivos com a criança e fazerem com que esta se sinta mais segura e protegida.
Os pais desempenham um papel fundamental na ocorrência e resolução das birras, dado que a forma como lidam com as mesmas pode afetar significativamente o comportamento da criança. Num momento, de birra, é muito importante apelar à paciência (que nestes momentos parece ser difícil), à compreensão, à empatia, à firmeza, ao sentido de humor e ao amor dos pais.
Alguns dos erros mais comuns que os pais podem cometer ao lidar com as birras dos filhos são:
– Ignorar as emoções da criança;
-Ceder às birras: pode reforçar o comportamento inadequado da criança;
-Ser inconsistente;
– Perder a paciência.
Lidar com as birras das crianças pode ser bastante desafiador para os pais. Poderá estar a questionar-se o que pode fazer para enfrentar estas situações e como pode lidar com as birras dos seus filhos, de uma forma mais saudável. E por isso, apresento-lhe em seguida algumas estratégias para lidar com esta questão:
· Tente manter a calma: é importante que os pais permaneçam calmos durante as birras, pois se, os pais também perderem a calma a situação pode intensificar-se e a criança ficar ainda mais frustrada;
· Tente comunicar, de forma clara com a criança, utilizando linguagem simples e direta para comunicar com a criança, explicando o motivo pelo qual ela não pode ter o que deseja;
· Tente oferecer alternativas e distrações, em vez de dizer simplesmente não à criança, Isso pode ajudá-la a redirecionar o seu foco e evitar que a birra se prolongue;
· Estabeleça limites consistentes: as crianças ao longo do seu desenvolvimento precisam de limites claros e consistentes. a consistência é fundamental ao lidar com as birras. Se os pais são inconsistentes nas regras e consequências, a criança pode ficar confusa e o comportamento desafiador persistir.
· Mostre-se empático/a e compreensivo/a com a criança: é importante reconhecer e validar as emoções da criança, pois ignorar ou minimizar as suas emoções pode levar a um aumento da intensidade da birra.Ttente compreender as emoções da criança, pode por exemplo, dizer coisas como “eu entendo que estás chateado/a” “eu sei que querias muito isto” pode ajudar a criança.
· Mantenha-se consistente nas práticas parentais: seja consistente nas suas abordagens e consequências. Se ceder as birras da criança, ela pode aprender que essa é uma forma eficaz de conseguir o que quer. Tanto o pai, como a mãe devem ser coerentes na aplicação de regras e limites;
· De um tempo à criança: se a birra continuar, pode ser útil dar um tempo à criança para que esta se conseguir acalmar. Coloque-a num lugar seguro e permita que ela se acalme antes de retomar a comunicação;
· Reforce e elogie o bom comportamento da criança, isso pode incentivar comportamentos positivos e diminuir a frequência das birras.
Em suma, importa ainda reassalvar que as birras não devem das crianças não devem ser ignoradas ou interpretadas como mau feitio, problemas de comportamento e/ou falta de educação. Saber lidar com uma birra é, de facto, desafiador e difícil, para todos os envolvidos. A birra é uma ferramenta para a criança experienciar as emoções, conhecer os seus limites e dos pais e saber até onde pode ir, funcionando, na grande vezes, como um teste para aqueles que a rodeiam, sendo por isso um dos grandes desafios da parentalidade.
Lembre-se que procurar ajuda especializada pode ajudá-lo/a a lidar melhor com as birras dos seus filhos. Lembre-se que cada criança é única Um psicólogo pode ajudá-lo/a a desenvolver estratégias de regulação emocional e autocuidado que lhe permitam gerir melhor aquilo que está a sentir.