Desejo sexual responsivo na mulher

Tal como acontece com muitos temas, a forma como pensamos acerca do desejo sexual é bastante influenciada pelos media, pelos filmes, música e até livros. Não é de estranhar que muitas pessoas acreditem que o desejo sexual deve ser algo espontâneo, natural, que surge “do nada”, sem muito esforço, e que é independente do contexto. Associadas a estas crenças, está também a crença de que se não formos capazes de sentir o desejo dessa forma, então é porque existe alguma coisa de errado connosco. Quando aliamos estas crenças à expetativa de que a frequência e a intensidade do desejo nunca mudam e que se deve manter estável ao longo do tempo, mesmo em relações de longa duração, estamos a contribuir para um grande sofrimento psicológico, principalmente em mulheres que não sentem o desejo desta forma.

Sabemos hoje que estas crenças e expetativas não correspondem àquilo que acontece na realidade. O desejo sexual da mulher e a sua receptividade estão dependentes de vários fatores como o contexto, o nível de intimidade, a satisfação pessoal e relacional, a autoimagem e as experiências sexuais passadas, e tende a alterar-se ao longo do tempo, principalmente em relações de longa duração. Uma das diferenças que mais mulheres, em relações de longa duração, relatam é a diminuição do desejo espontâneo e o aumento do desejo responsivo.  

Muitas mulheres, em relações de longa duração, não se envolvem sexualmente com os seus parceiros ou parceiras por motivações sexuais (ou seja, porque sentem desejo ou excitação, ou porque têm fantasias e pensamentos sexuais frequentes), mas sim por outras motivações não sexuais como a procura de proximidade emocional, sentirem-se atraentes, amadas ou desejadas. E é então no decurso da atividade sexual, e em reposta à mesma, que surgem o desejo e a excitação sexual, que por sua vez, aumentam a receptividade e disponibilidade da mulher para se envolver sexualmente.

Olhar para o desejo desta forma abre-nos a porta à possibilidade de uma vida sexual satisfatória na ausência de desejo espontâneo, uma vez que a ausência de desejo espontâneo não impede a receptividade e a capacidade de apreciar sexo. Ao mesmo tempo, pode ajudar a diminuir o sofrimento psicológico associado à ausência de desejo espontâneo e de motivações sexuais, uma vez que sabemos que existem outras motivações, para além do desejo, para fazermos sexo que são completamente legítimas e aceitáveis, como a procura de intimidade e proximidade emocional.

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Sara Cruz

No nosso blog vai poder ler artigos escritos pelas nossas psicólogas sobre temas da atualidade e saúde mental.

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