A discrepância de libido é um dos problemas mais comuns em casais, em relações de longa duração. Quando existe esta discrepância, pode estabelecer-se um ciclo vicioso e destrutivo: o ciclo de perseguição e distanciamento. Quando este ciclo se instala, o parceiro com mais libido persegue o parceiro com menos libido com o intuito de fazer sexo. Ao mesmo tempo, o parceiro com menos libido, distancia-se e evita qualquer tipo de contacto físico e sexual. Quanto mais a pessoa que persegue se queixa e implica com a outra, mais a pessoa que se distancia se afasta e se torna emocional e sexualmente indisponível. Consequentemente, quanto mais a pessoa que se distancia se afasta, mais frequentes tendem a ser os comportamento de perseguição.
Embora inicialmente a pessoa com mais libido até possa ter uma postura paciente, com o passar do tempo começa a sentir-se muito infeliz, sentindo-se privada, não só de sexo, mas também de afeto, proximidade emocional e intimidade com a pessoa que amam. Muitas vezes, estas pessoas equiparam sexo com amor, por isso, quando não fazem tanto sexo como gostariam, começam a sentir-se emocionalmente e sexualmente abandonadas, magoadas, rejeitadas e não amadas. Quando a paciência acaba, a situação começa a escalar, tornam-se pessoas zangadas e ressentidas, queixando-se frequentemente da falta de sexo e expressando a sua frustração e zanga em relação ao outro ou tentando iniciar sexo apesar das recusas constantes da outra pessoa. Apesar de estes comportamentos serem motivados, não só pelo desejo sexual, mas também pelas necessidades emocionais de proximidade, intimidade e carinho e de evitamento de sentimentos dolorosos de rejeição, por causa dos comportamentos que escolhem adotar, estas pessoas raramente conseguem a empatia e compreensão que merecem e precisam. Em casos mais extremos, quando percebem que os seus esforços estão a falhar, utilizam outra estratégia: recuam, desistem e distanciam-se emocionalmente do outro. Param de se queixar e de iniciar sexo e sofrem em silêncio. Podem então terminar a relação, distanciar-se emocionalmente do parceiro ou procurar outras formas de satisfazerem as suas necessidades sexuais fora da relação.
A pessoa com menos libido, não querendo envolver-se sexualmente, torna-se desconfiada e apreensiva em relação a qualquer tipo de contacto físico e afeto da outra pessoa, evitando abraços, beijos, ou até sentar-se perto da outra pessoa, com receio que qualquer tipo de contacto físico seja visto como um convite sexual. O comportamento de distanciamento pode ocorrer na forma de imersão no trabalho ou hobbies, ir para a cama mais cedo ou mais tarde, até que a outra pessoa adormeça. Quase sempre, a pessoa com menos libido acredita que tudo o que a outra pessoa quer é sexo. Não querendo envolver-se sexualmente, e tendo receio de que qualquer nível de contacto físico seja interpretado como um convite sexual, fica a ansiar por afeto e proximidade. A pessoa que se distancia sente-se frequentemente pressionada, inadequada, culpada, ansiosa, ressentida e zangada, desamparada e sufocada pelas necessidades sexuais do outro. Enquanto o ciclo de perseguição e distanciamento persistir, a pessoa com menos libido não tem nenhuma hipótese de ver a sua libido e desejo aumentados, porque, ao mesmo tempo que as emoções e sensações desagradáveis e negativas que sente atuam como inibidores do desejo, a intimidade e o afeto que podiam ajudar a “reacender” a chama são inexistentes na relação.
À medida que o ciclo progride, os parceiros começam a relacionar-se de formas destrutivas um com o outro, formas essas que danificam e destroem os laços emocionais que os mantêm física e emocionalmente próximos. Tal leva a uma diminuição ainda maior do contacto sexual, físico e emocional entre o casal.
A discrepância de libidos é um problema do casal, em que nenhum dos parceiros tem culpa e em que ambas as partes são responsáveis pela procura de uma solução. Para que o ciclo cesse, é necessário que ambos os membros do casal se parem de culpar um ao outro e que trabalhem como uma equipa na descoberta e construção de formas mais construtivas de lidar com esta discrepância, nomeadamente, em formas de negociar uma frequência de atividade sexual mutuamente satisfatória.