As decisões que toma diariamente têm um impacto na sua vida futura. Algumas, terão aparentemente um pequeno impacto como por exemplo, “o que vou comer ao pequeno-almoço?”, mas outras serão bastante impactantes, como por exemplo, “aceitar ou não um certo emprego?”. Elas influenciam diretamente o seu bem-estar emocional, os seus relacionamentos e até mesmo a sua trajetória profissional. Mas quais os processos que estão por detrás da tomada de decisão?
Sabemos que a tomada de decisão envolve dois elementos fundamentais: a racionalidade, onde os custos e benefícios são analisados, mas também as emoções desempenham um papel significativo nesse processo. Ao longo deste artigo, exploraremos o impacto das emoções na tomada de decisão e como a psicologia o pode ajudar a fazer escolhas mais conscientes e saudáveis.
A tomada de decisão está intrinsecamente ligada às emoções, mas qual o seu papel? As emoções podem afetar a forma como percebe e interpreta as informações relevantes para uma decisão, direcionando as suas escolhas de acordo com as suas crenças, preferências e motivações. Por exemplo, se se sentir com energia e entusiasmo, poderá ser mais propenso a assumir riscos ou motivado para abraçar novas oportunidades. Por outro lado, se se sentir triste ou cansado, poderá mais facilmente evitar tomar decisões.
Por outro lado, é também essencial refletir sobre o papel das emoções. Recorrentemente é feita uma distinção entre duas categorias de emoções: as emoções ditas “negativas”, associadas a sensações desagradáveis e desconfortáveis, e as emoções ditas “positivas”, associadas a sensações agradáveis e desejadas. No entanto, as emoções “negativas” não são de todo negativas. Apesar de desconfortáveis elas têm também um papel nas nossas vidas, normalmente de proteção.
As emoções desagradáveis, como a ansiedade e o medo, têm normalmente um impacto no processo de decisão, na medida que, o influenciarão a proteger-se e evitar potenciais perigos. Quando estas emoções estão presentes, poderá ser mais difícil avaliar as opções de forma racional. A ansiedade, o medo, ou a preocupação, cujo papel de proteção é evidente, poderão incentivá-lo a focar a sua análise das opções nos potenciais perigos, impedindo-o de tomar decisões alinhadas com os seus objetivos e desejos. Por exemplo, cada vez que surge na sua vida uma decisão importante, o papel do medo ou da preocupação será relembrá-lo do que pode correr mal, não porque uma das opções vá efetivamente correr mal, mas pela incerteza associada a essa decisão.
A incerteza é uma das maiores barreiras no processo de tomada de decisão. Qualquer decisão que tome vai ter uma percentagem de incerteza da qual é impossível dissociar-se. Ao mudar de emprego, é impossível saber se este será melhor ou pior emprego do que aquele que tem neste momento, ao escolher uma refeição num restaurante, nunca saberá se um dos outros pratos que não escolheu, o satisfaria mais. Aceitar a incerteza no processo de tomada de decisão, ou seja, aceitar que não pode controlar as consequências da sua decisão na totalidade, é um passo importante para não ficar preso no impasse entre tomar e não tomar a decisão.
Por outro lado, as emoções agradáveis, as ditas “positivas”, têm o potencial de facilitar o processo de tomada de decisão. Quando se sente alegre e entusiasmado, a sua capacidade de tomar decisões é ampliada. Esses estados emocionais, poderão torná-lo mais criativo, flexível e aberto a diferentes perspetivas. Ao sentir-se emocionalmente equilibrado, será mais fácil de considerar as várias opções, avaliar os prós e contras de forma mais eficiente e de tomar decisões mais assertivas e alinhadas com os seus valores e objetivos. Perante um estado emocional mais positivo, poderá sentir-se mais motivado a aceitar a incerteza e ver-se a si mesmo como mais capaz de lidar com a mudança ou as consequências de uma determinada decisão.
Quais as principais barreiras psicológicas para a tomada de decisão?
Existem várias barreiras psicológicas que podem interferir no processo de tomada de decisão. Duas que já referimos são a dificuldade em tolerar a incerteza e as emoções desagradáveis como medo e ansiedade.
Outra barreira significativa é aquilo que nós chamamos de “viés cognitivo”, ou seja, a influência das nossas próprias perceções e preconceitos na forma como avaliamos as informações, nomeadamente as várias opções que temos em cima da mesa no momento da decisão.
Outra barreira comum é a aversão à perda. Da mesma forma que todas as decisões envolvem a incerteza, todas as decisões envolvem perda. Ao decidir entre duas ou mais opções, perderá as outras todas pelas quais não optou, e lidar com essa perda, especialmente associada à incerteza de ser uma maior ou menor perda, poderá ser angustiante.
Além disso, a falta de autoconfiança e baixa autoestima podem ser também fatores que o impedem de tomar decisões importantes, associados ao adiamento da decisão, a famosa procrastinação, e à falta de assertividade.
Como é que um psicólogo o pode ajudar a tomar decisões mais conscientes e saudáveis?
Como já vimos, a tomada de decisão não é apenas um processo racional. Não se trata apenas de analisar qual é a melhor opção e decidir. No processo de tomada de decisão está envolvida a racionalidade, as emoções, o seu sistema de crenças, ou seja, a sua relação consigo mesmo e a forma como se vê, nomeadamente como vê as suas competências e capacidades para lidar com uma determinada situação. Ao longo do processo terapêutico, todas estas vertentes são analisadas em conjunto, com o objetivo de perceber quais as motivações e barreiras para a tomada de decisão e qual o papel de certas dificuldades ou emoções na escolha de uma das opções. Portanto o psicólogo, ajudá-lo-á a conhecer-se melhor, compreender como toma decisões no seu dia-a-dia e de que forma é que esses processos estão ou não alinhados com os seus valores e necessidades, ajudando a desenvolver ferramentas e estratégias que o ajudarão não só a tomar decisões como a regular as suas emoções de forma a ultrapassar as barreiras psicológicas que dificultam este processo.
Felizmente, existem estratégias e passos que pode adotar para facilitar o processo de tomada de decisão e superar as barreiras psicológicas mencionadas anteriormente. Aqui estão algumas sugestões:
- Autoconhecimento: Invista tempo em conhecer-se a si mesmo, às suas necessidades, valores e objetivos. Quanto mais consciente estiver das suas preferências e motivações, mais fácil será tomar decisões alinhadas com a sua essência.
- Análise de custos e benefícios: escreva uma lista dos custos e dos benefícios de cada opção em questão. Isso ajudará a visualizar as diferentes perspetivas e a avaliar os benefícios e desafios de cada escolha.
- Avalie as consequências: Considere as possíveis consequências de cada opção e pondere tanto as consequências imediatas quanto as de longo prazo, tendo em conta os seus objetivos e valores.
- Procure um psicólogo: Ao enfrentar as dificuldades emocionais da tomada de decisão ou as barreiras psicológicas que a afetam, considere procurar ajuda de um psicólogo. Um psicólogo pode ajudá-lo a desenvolver e treinar estratégias de regulação emocional e apoiá-lo no processo de decisão de acordo com as suas necessidades.
A tomada de decisão é um processo complexo e é influenciado por vários fatores, nomeadamente as emoções e barreiras psicológicas. Ao reconhecer e compreender esses aspetos, poderá adotar estratégias para facilitar a tomada de decisão consciente e saudável.
Enquanto psicóloga, o meu conselho é que não se esqueça que qualquer decisão é tomada na incerteza e que, perante nenhuma decisão, poderá ter 100% de garantia de qual a melhor opção, porque todas elas envolverão ganhos e perdas. E por mais que uma decisão seja assustadora todas elas são reversíveis de alguma forma.