Quantas pessoas já ouviram falar do termo metacomunicação? Provavelmente não muitas. Mas, muito resumidamente, a metacomunicação corresponde ao ato de comunicar sobre a comunicação.
Vamos desconstruir!
Comunicar é das coisas mais difíceis e complexas que existem, sendo um processo multi-modal e multi-funcional. No fundo, comunicar bem é difícil. Isto porque estamos sempre sujeitos a que a mensagem se perca “na tradução” (lost in translation) já que a outra pessoa não ouve o que lhe é dito, mas sim aquilo que interpreta daquilo que lhe está a ser dito.
Complexo, certo?
E é aí que entra a metacomunicação.
Vamos imaginar o seguinte cenário: a Maria teve uma noite particularmente difícil e quando se levanta no dia a seguir, logo após ter adormecido assim que o despertador tocou, bom, digamos que o seu estado de humor não é a coisa mais agradável nessa manhã. A Maria partilha casa com a sua amiga, a Alexandra, que, mal a vê, decide partilhar como foi a sua Sexta-feira à noite. A Alexandra conta, entusiasticamente, a situação e a Maria, com zero disponibilidade emocional, mal lhe responde e as únicas vezes que o faz é base de grunhidos. A Maria simplesmente não está com paciência, não porque não gosta da Alexandra ou porque não quer que a amiga partilhe consigo as suas histórias, mas porque teve uma insónia daquelas e tem que se ir arranjar para ir para o trabalho.
Ora, dando-lhe o contexto todo fica fácil perceber o porquê da Maria não estar propriamente com vontade de falar, certo? Agora vamos imaginar que o(a) leitor(a) é a Alexandra, que não sabe que a sua companheira de casa passou mal a noite e que até é uma pessoa insegura. Facilmente esta falta de comunicação pode ser interpretada como um “fiz alguma coisa”, “aposto que a Maria está chateada comigo”, “se calhar ela já não quer ser minha amiga”, etc etc.
Mais tarde, quando a Maria chega a casa já depois de estar mais relativamente acordada, vai ao encontro da Alexandra que, porque acha que a Maria está chateada com ela, dá-lhe uma resposta mais torta. A Alexandra estranha e, como não percebe o porquê daquela reação, também não fica propriamente contente.
De repente, podemos ter duas pessoas que estão chateadas uma com a outra.
Ora, uma boa forma de resolver este tipo de conflitos é metacomunicar. Metacomunicar envolveria algo como “olha, hoje de manhã quando te contei aquilo que se passou e tu mal reagiste, eu senti-me triste porque estava realmente entusiasmada e fiquei a pensar que poderia ter feito alguma coisa para te chatear”, que abriria espaço a “não, não, apenas não dormi nada e estava muito cansada para responder, mas conta-me agora”.
Um final muito diferente, certo?
Certamente que a situação se podia ter evitado logo no início, mas quantas vezes não damos por nós numa situação que de repente escala sem que tivéssemos noção que isso fosse acontecer?
Mais importante que isso é como dar a volta por cima. Metacomunicar pode ser uma excelente estratégia para melhorar os seus relacionamentos, a sua comunicação mas desengane-se que é fácil. Exige esforço, disponibilidade emocional e uma boa dose de vulnerabilidade (e abertura da outra parte). Mas, no final, vai ver que valerá muito a pena e especialmente se tiver contribuído para uma forma mais saudável de comunicar com o outro.