Vivemos numa era em que a tecnologia faz parte do quotidiano. É cada vez mais comum vermos bebés, desde os primeiros meses, a assistir a vídeos em telemóveis ou tablets, enquanto os pais tentam gerir uma refeição, o trabalho ou uma ida ao supermercado. Embora compreensível no contexto da vida moderna, esta exposição precoce e prolongada aos ecrãs levanta preocupações importantes do ponto de vista do desenvolvimento infantil e das relações sociais.
A investigação mostra que muitos bebés são expostos a ecrãs antes dos 2 anos, uma fase bastante importante no desenvolvimento cerebral infantil. Durante este período, o cérebro precisa de estímulos sensoriais e motores reais (brincar com objetos, ouvir vozes humanas, contacto visual, interação social), que os ecrãs dificilmente substituem. Quando um bebé interage com um ecrã, há um empobrecimento da qualidade da estimulação, o que pode afetar a linguagem, a atenção e a capacidade de autorregulação.
Em crianças mais velhas e adolescentes, o uso excessivo de telemóveis, iPads e televisão pode ter vários impactos:
- Atrasos na linguagem e comunicação;
- Dificuldades de atenção: conteúdos rápidos e altamente estimulantes habituam o cérebro a uma gratificação imediata, o que pode dificultar a concentração noutras tarefas (nomeadamente, na escola);
- Alterações do sono: a luz dos ecrãs interfere com a produção de melatonina, atrasando o sono e reduzindo a sua qualidade;
- Redução da brincadeira livre: essencial para o desenvolvimento emocional, motor e social.
Além destes aspetos, cabe destacar a interferência na socialização. Quando o tempo de ecrã ocupa um espaço significativo da rotina, há menos tempo para desenvolver empatia, resolver conflitos ou praticar competências sociais reais. É cada vez mais comum ver grupos de adolescentes juntos, mas cada um imerso no seu telemóvel.
Então, o que podem fazer os pais e cuidadores?
Não se trata de demonizar a tecnologia, ela pode ser uma ferramenta valiosa, quando usada em equilíbrio. A chave está na existência de limites, de forma a que seja possível um uso consciente e moderado.
Aqui ficam um conjunto de dicas práticas:
- Estabelecer limites claros e consistentes de tempo de ecrã – a OMS recomenda evitar ecrãs antes dos 2 anos e limitar a 1h por dia entre os 2 e os 5 anos.
- Privilegiar conteúdos educativos e partilhados – em vez de o uso dos telemóveis e tablets ser uma fuga para gerir outras situações, tornar esse momento familiar e de partilha.
- Criar “zonas livres de ecrãs” – por exemplo, não ver televisão durante a hora das refeições ou antes de ir dormir.
- Oferecer alternativas “reais” – brinquedos não digitais, atividades de ar livre, livros, jogos de mesa, etc.
- Seja exemplo – as crianças aprendem pelo que observam. Se os adultos estão constantemente ligados aos telemóveis, tablets ou computadores, elas quererão fazer o mesmo.
A tecnologia veio para ficar e é da nossa responsabilidade guiar as crianças a conviver com ela de forma saudável!




