O papel do evitamento na manutenção da ansiedade.
Mas afinal, será a ansiedade assim tão má como a pintam?
Ansiedade, a palavra do século. Atualmente, a palavra “ansiedade” está por toda a parte. As perturbações de ansiedade são das mais prevalentes na população portuguesa e no mundo, estimando-se que 1 em cada 3 pessoas sofra com algum problema relacionado com a ansiedade.
A ansiedade é uma resposta biológica extremamente importante, pois tem funções ligadas à sobrevivência. Sem a ansiedade, o ser humano enquanto espécie provavelmente já teria sido extinto. A ansiedade é aquilo que nos permite percecionar e avaliar o risco de cada situação, bem como tem a função de nos preparar para reagir em casa de perigo real.
Geralmente, a ansiedade apresenta três tipos de respostas possíveis: fight, flight e freeze. Na primeira, o coração começa a bater mais depressa, a respiração fica mais intensa, os músculos contraídos e o sangue é mobilizado para os membros, preparando-nos para lutar contra o objeto ameaçador. Na segunda, a resposta fisiológica é muito semelhante, mas o objetivo é fugir o mais rápido possível para longe da ameaça. A terceira é facilmente reconhecida como a resposta de “bloqueio”. O corpo ficar rígido, imóvel e extremamente tenso, numa tentativa de passar despercebido. Este tipo de respostas que a ansiedade proporciona são o que nos permite reagir quando vamos atravessar a passadeira e um carro se aproxima demasiado depressa, provocando o impulso de darmos um passo atrás, por exemplo.
Então quando é que a ansiedade se torna um problema?
A ansiedade passa a ser considerada um problema quando ocorre de forma excessivamente intensa, prolongada e desajustada face ao perigo real, causando sofrimento na pessoa que a experiencia, refletindo-se num impacto negativo significativo em várias áreas da vida. Isto acontece quando o sistema nervoso perceciona situações/objetos como sendo ameaçadores, quando na realidade não o são ou quando existe uma sobrestimação do perigo face ao perigo real.
Porque é que os problemas de ansiedade se mantêm?
Dentro da lógica das três respostas possíveis da ansiedade, aquela que tende a predominar é a de flight, ou seja, fugir daquilo que nos parece ser ameaçador. Quando se trata de um estímulo verdadeiramente ameaçador, esta resposta é adequada e promove a sobrevivência e o bem-estar, no entanto, quando o perigo real é menor do que o perigo percebido, fugir do estímulo vai resultar numa amplificação da ansiedade sentida. A esta fuga do estímulo que provoca ansiedade chamamos evitamento. O evitamento é o “combustível” da ansiedade, é aquilo que lhe dá força. Quanto mais eu evito uma situação/objeto, mais difícil vai ser enfrentá-lo e mais ameaçador ele me parece, o que significa que, quando me vir numa situação em que não posso mesmo evitá-lo, a ansiedade vai ser significativamente superior em relação à última vez. E é desta forma que se vai mantendo o ciclo da ansiedade, através de evitamentos consecutivos do estímulo ansiógeno.
Em resumo
A ansiedade é um mecanismo importante para a nossa sobrevivência, quando acontece de forma moderada e adequada face ao perigo real, passando a ser um problema quando se torna recorrente e persistente. Os problemas que advêm desta sobrestimação do perigo e que resultam em ansiedade vão-se mantendo ao longo do tempo através de comportamentos de evitamento que amplificam o perigo face à mesma situação, resultando num aumento significativo da ansiedade em relação à mesma, surgindo assim as perturbações de ansiedade.