A ansiedade de separação é uma fase comum no desenvolvimento infantil, caracterizada pela dificuldade que algumas crianças têm em lidar com o afastamento ou separação das suas figuras de vinculação, geralmente a mãe, o pai ou outros cuidadores. Deixar o seu filho/a a chorar na escola ou vê-lo/a a resistir à separação pode ser doloroso e desafiante. No entanto, é importante ter em consideração que algum nível de ansiedade de separação é normal e ocorre em quase todas as crianças, especialmente nas mais pequenas.
Esta fase geralmente surge antes do primeiro ano de vida e tende a dissipar-se por volta dos 3 anos, embora possa não durar todo esse tempo. O impacto desta fase, tanto nas crianças como nos pais, pode ser significativo.
“Mas o que é, na prática, a Ansiedade de Separação?
Imagine a seguinte situação: está prestes a sair de casa e, de repente, o seu filho/a começa a chorar, agarra-se a si com todas as forças e não quer deixar de sentir a sua presença.
Este comportamento desafiante e, por vezes, até desgastante, é uma manifestação clara da ansiedade de separação. Por mais difícil que seja lidar com esta situação, é importante perceber que é um sinal saudável e natural. Esta vinculação/apego intenso revela que o seu filho/a tem um vínculo forte consigo, o que é essencial para o seu desenvolvimento emocional, pelo que é perfeitamente normal que a criança sinta medo de se afastar das figuras que lhe proporcionam conforto e segurança. A criança está a aprender sobre sua a dependência e a construir a sua noção de segurança. Embora alivie saber que esse comportamento é normal, também é natural querer aliviar o stress que tanto você, como mãe ou pai, quanto o seu filho/a sentem nestes momentos.
“Então… e que sinais tenho de estar atento/a?”
Reconhecer quando o seu filho/a está a passar por um episódio de ansiedade de separação pode ajudar a gerir melhor a situação. Os sinais mais comuns incluem:
- Choro intenso quando se afasta.
- Recusa em deixá-lo/a sair do seu lado, especialmente em locais novos (por exemplo, na 1ª vez na escola/infantário).
- Agarra-se fisicamente a si com mais força em situações ou locais novos.
- Medo ou desconforto na presença de estranhos.
- Preferência clara por um dos progenitores ou avós.
- Dificuldade em adormecer sozinho/a.
- Despertar noturno com choro e a chamar por alguém específico.
Estes comportamentos são normais nesta fase, e com o tempo, é expectável que diminuam à medida que a criança desenvolve mais confiança e independência.
“Identifico alguns desses sinais, como posso lidar com isso?”
A ansiedade de separação não afeta apenas as crianças. Os pais também sofrem ao verem os filhos a chorar ao deixá-los na escola. É comum sentir uma mistura de impotência e culpa, o que pode levar a hesitar na despedida ou a prolongar o momento (veremos mais abaixo que isso não é benéfico para a criança). No entanto, é essencial que tanto os pais quanto os filhos aprendam a lidar com esta fase de forma positiva. O objetivo é ajudar a criança a perceber que ficará segura e feliz durante a separação e garantir que os pais sintam tranquilidade ao deixá-la. Para isso, existem algumas estratégias que podem fazer toda a diferença:
- Treine separações curtas em casa: Comece por deixar o seu filho/a com alguém de confiança por alguns minutos. Aos poucos, aumente gradualmente o tempo de separação e introduza novos locais para ajudar a criança a familiarizar-se com estas pequenas ausências.
- Explique a ausência de forma simples: Embora uma criança pequena não entenda conceitos como “trabalho” ou “compromissos”, é útil explicar por que motivo se vai ausentar e por quanto tempo. Use expressões temporais para que a criança compreenda, como “depois do pequeno-almoço vou levar-te à escola” ou “depois do lanche vou buscar-te”.
- Despedidas rápidas e positivas: Ao despedir-se da criança, sorria, acene e demonstre confiança. As despedidas devem ser breves. Se a criança sentir hesitação ou nervosismo da sua parte, a ansiedade dela pode aumentar.
- Evite desaparecer de repente: A tentação de sair discretamente ou sorrateiramente quando a criança se distrai é grande, mas isso pode aumentar a ansiedade. Sempre que possível, diga que vai sair/embora.
- Permita que a criança leve consigo um objeto familiar: Um peluche ou qualquer objeto que a criança associe à casa pode proporcionar conforto e ajudá-la a sentir-se mais segura na sua ausência.
- Combine atividades futuras: Para crianças um pouco mais velhas, que já reconhecem lugares como o parque ou o supermercado, mencionar o que vão fazer juntos depois da escola pode ajudar a aliviar a tensão da despedida.
- Estabelecimento de uma rotina consistente: Defina horários regulares para as principais atividades do dia, como acordar, tomar o pequeno-almoço, vestir-se, sair de casa e chegar à escola/infantário, e desenvolva um pequeno ritual de despedida que seja repetido todos os dias (por exemplo, um abraço). Quando essas ações ocorrem sempre na mesma ordem e horário, a criança começa a prever o que vem a seguir, o que pode aliviar o medo do desconhecido. A repetição do ritual de despedida diário reforça a mensagem de que a despedida é temporária e que os pais irão regressar.
- Gestão da Ansiedade dos Pais: Prática de mindfulness e exercícios de respiração podem ser úteis para saber gerir a ansiedade e promover um ambiente emocionalmente estável para a criança.
“Então mas a Ansiedade de Separação pode voltar?”
Embora a ansiedade de separação geralmente diminua após os 3 anos, é possível que volte a surgir em momentos de grande mudança ou stress, como:
- A chegada de um novo irmão.
- Mudança de sala ou escola.
- Um novo educador/professor ou cuidador.
- Mudar de casa.
- Perda de um familiar próximo.
- Ausências prolongadas de um dos pais.
- Situações de cansaço, fome ou doença.
Cada uma dessas situações pode despertar novamente a ansiedade, o que é perfeitamente normal e compreensível.
“Esta situação já dura há algum tempo e já não sei o que faça mais, quando é que devo procurar ajuda?“
Por mais natural que a ansiedade de separação seja, em alguns casos, pode persistir e interferir no bem-estar da criança e da família. Se notar que o seu filho/a continua a manifestar uma ansiedade intensa após várias semanas, sem sinais de melhoria, pode ser útil consultar um pedopsiquiatra. Em casos mais graves, a criança pode apresentar sintomas físicos, como dores de cabeça ou estômago, ou mesmo pesadelos e terrores noturnos.
É importante distinguir entre uma fase normal de ansiedade de separação e uma possível perturbação de ansiedade de separação, que poderá requerer intervenção terapêutica.
Para concluir…
A ansiedade de separação é uma fase natural do desenvolvimento infantil, e com a abordagem certa, pode ser superada com sucesso. Lembre-se de que esta fase não só ajuda a criança a desenvolver um sentido de segurança, como também fortalece o vínculo entre pais e filhos. Seja paciente, tolerante, compreensivo/a, use as estratégias sugeridas e, se necessário, não hesite em procurar ajuda profissional. Afinal de contas, vivenciar estas fases desafiantes em conjunto faz parte da aventura de ser pai e mãe.