Já deu por si a imaginar um momento perfeito – uma festa, um projeto de trabalho, uma viagem – e depois acabou frustrado/a porque as coisas não saíram como esperava? Isso é algo bastante comum e está relacionado com a forma como o nosso cérebro lida com as expetativas e a perfeição.
A verdade é que a procura incessante pela perfeição pode ser um dos maiores obstáculos para a felicidade. Diversos estudos indicam que a tendência de criar expetativas irrealistas pode aumentar o nível de frustração, insatisfação e ansiedade. A nossa perceção do momento presente fica enviesada, e acabamos por nos focar mais no que está errado do que naquilo que está a correr bem. Este fenómeno está relacionado com o negativity bias (viés da negatividade), que descreve a nossa tendência para nos focarmos em aspetos negativos, mesmo em situações positivas (Baumeister et al., 2001).
Além disso, a teoria das expectativas cognitivas, proposta por Kahneman e Tversky (1979), sugere que, quanto mais elevado for o ideal que criamos, maior será a diferença entre o que esperamos e o que vivemos/alcançamos. Esta divergência entre expetativas e realidade resulta frequentemente em sentimentos de insatisfação e reduz a nossa capacidade de apreciar as nossas conquistas.
Quando criamos um “cenário perfeito” na nossa mente, afastamo-nos da realidade e perdemos a oportunidade de apreciar o que realmente está a acontecer. A prática de mindfulness surge como uma solução eficaz para contrariar este efeito, dado que ajuda reduzir pensamentos ruminativos e a melhorar a regulação emocional, promovendo um foco no momento presente.
Além disso, a prática da gratidão ao identificar aspetos positivos mesmo em situações imperfeitas pode aumentar significativamente a satisfação e o bem-estar.
Imagine o exemplo de uma festa de aniversário. Em vez de se focar no balão que rebentou ou na sobremesa que não ficou perfeita, valorize as conversas com amigos.
Existem diversas estratégias práticas que ajudam a ajustar as expectativas e viver de forma mais plena:
- Ajuste as suas expectativas à realidade: Redefina objetivos para que sejam realistas reduz a ansiedade e o perfeccionismo. Questione-se: “Este detalhe/pormenor é assim tão importante ou posso focar-me no que é verdadeiramente importante e essencial?”
- Foque-se naquilo que verdadeiramente está sob o seu controlo: Ao concentrar-se no que está ao seu alcance, em vez do que não pode controlar, contribui para uma maior resiliência emocional.
- Valorize o que correu bem: Pratique a gratidão. No final de cada dia, questione: “O que foi bom hoje, mesmo que tenha sido diferente do que imaginei?”
A perfeição é uma ilusão, um mito que impede de viver uma vida verdadeiramente plena. Mesmo que todos desejemos uma vida perfeita, é importante relembrar que a mesma não precisa de ser assim para ser boa. Aceitar a realidade que engloba falhas e também determinados imprevistos é o primeiro passo para viver de forma mais autêntica e plena.
Sugiro que comece a colocar de parte o pensamento sobre o ideal e inalcançável e comece a apreciar o que realmente importa – o momento presente.